sexta-feira, março 15, 2019

Visitação cresce 33% nos atrativos do PNCD no Vale do Capão

Os dados foram levantados no feriado de carnaval durante o maior monitoramento da visitação já realizada na unidade de conservação, ação que priorizou a conscientização ambiental para visitantes e voluntários   

Voluntário apresenta regras do Parque Nacional aos visitantes na entrada da trilha  

Durante o feriado de carnaval, o ICMBio, em parceria com a entidade Ampla Bombeiros Civis, realizou o monitoramento dos atrativos do Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) acessados pelo Vale do Capão. A ação foi a maior atividade de monitoramento da visitação já realizada na Unidade de Conservação (UC) e registrou a passagem de mais de quatro mil visitas, o que significa um aumento de 33% no fluxo turístico, comparado ao mesmo período do ano passado.
 
 Ação contou com voluntários, brigadistas e analistas.  
Com foco na conscientização ambiental, na segurança e no ordenamento da visitação, foram monitoradas as entradas das trilhas que dão acesso aos atrativos do Parque Nacional: o Bomba, que dá acesso a Cachoeira da Purificação e Vale do Pati; a entrada para Rodas, Rio Preto e Poço do Gavião e o acesso para o Morrão e Águas Claras. Além disso, quatro pessoas foram destinadas apenas para organizar a visitação na parte superior da Cachoeira da Fumaça.

O trabalho tem sido realizado nos últimos anos no Vale do Capão e desde a primeira edição o objetivo é apresentar aos visitantes as normas do PNCD, como não fazer fogueiras, não entrar com animal doméstico, não consumir bebidas alcoólicas e não deixar lixo, entre outras. Uma semana antes do feriado, também foram distribuídos panfletos sobre o tema em pousadas e restaurantes do Capão.

Para Marcela de Marins, analista ambiental do ICMBIo, a ação foi considerada positiva pois contribuiu para que os turistas tivessem uma boa experiência nos atrativos, sem causar danos ao ambiente e acidentes. Grande parte dos visitantes acataram as recomendações, apenas dois insistiram em descumprir as regras entrando com animal doméstico. “Por isso, foram autuados, o que foi feito como última medida”, explica.

Educação ambiental e voluntariado 

Voluntária participa da ordenação da visitação na Fumaça. 
O trabalho só foi possível devido a parceria realizada com a Ampla Bombeiros Civis de Seabra, entidade voltada para a valorização da profissão, que mobilizou os 18 jovens que atuaram voluntariamente como monitores durante o feriado. 

O que foi essencial para viabilizar as atividades e alcançar os resultados junto aos visitantes. Além disso, “foi uma grande satisfação promover o contato de moradores da região com o Parque Nacional e também conscientizá-los sobre qual comportamento devemos ter em um ambiente natural”, destaca Marcela. “Realizar atividades com voluntários também possui um papel educativo”, completa.

A maioria dos voluntários não conhecia o Vale do Capão, assim como Ildinéia Alves (30), socorrista e estudante de técnico em enfermagem.  Ela atuou pela primeira vez como voluntária e ficou apaixonada pelo lugar. “Foi muito gratificante cuidar um pouco da natureza e poder ajudar as pessoas. Foi uma grande experiência”, ressalta.

Para Deise dos Santos, presidente da Ampla, a participação no monitoramento do Parque Nacional é uma troca. “É uma forma de mostrarmos para a sociedade a importância do nosso trabalho e, ao mesmo tempo, contribuir com o meio ambiente”.

Ação contou ainda com a participação de toda equipe técnica do PNCD/ICMBio, brigadistas contratados e com o apoio da Prefeitura Municipal de Palmeiras.
   

Seja um voluntário    


Trabalho de monitoramento foi realizado através do programa "Voluntariado ICMBio".

“Voluntariado ICMBio” é um programa nacional  que visa promover o engajamento da sociedade na conservação da biodiversidade por meio da ação voluntária e do reconhecimento público dessa contribuição.

É uma oportunidade para cada um exercitar sua cidadania e contribuir para um meio ambiente mais equilibrado e melhoria da qualidade de vida local. É possível atuar como voluntário no Parque Nacional da Chapada Diamantina e também em outras Unidades de Conservação do país.

Cadastre-se no sistema do Programa de Voluntariado e receba as chamadas públicas para a realização dessas atividades.

sexta-feira, março 08, 2019

Mulheres na linha de fogo

Brigadistas que atuam no combate aos incêndios florestais no Parque Nacional da Chapada Diamantina reforçam o argumento de que é possível atuar em qualquer área independente do gênero, mesmo nas que exigem mais força física e em que somos submetidos a condições extremas  

Pauliana Alves, de Ibicoara, brigadista há 15 anos. 

Apesar de possuir um papel de extrema importância para a conservação ambiental, pouco se fala sobre o trabalho dos brigadistas. A profissão não é regulamentada e os dados são quase inexistentes, ainda mais quando se trata de um recorte de gênero. Mas não é preciso de muito para saber que é uma função ocupada majoritariamente por homens. Porém, esse cenário tem mudado. Quem conhece as inúmeras brigadas da Chapada Diamantina sabe que as mulheres estão ganhando cada vez mais espaço na linha de fogo.

Uma conquista que segue a tendência da América Latina na diminuição da desigualdade entre homens e mulheres, de acordo com o Índice Global de Desigualdade de Gênero, mas com o diferencial de extrapolar um dos obstáculos mais primitivos da questão: a força física.
Esses profissionais são submetidos a diversas condições de risco e desconforto. Não é raro passarem dias acampados em locais inóspitos, tendo que caminhar quilômetros em mata fechada para enfrentar temperaturas elevadíssimas e muita fumaça.

A brigadista Pauliana Alves é moradora de Ibicoara e começou a ir para o fogo acompanhada de seu pai, um dos fundadores da brigada voluntária do município ligada a ACVIB. E, assim como suas companheiras de profissão, mesmo com o apoio dentro de casa, ouviu inúmeras vezes que aquilo não era trabalho para mulher.

Izabelle Brandão, brigadista voluntária do PNCD há sete anos. 
“Realmente é um desafio, pois temos que levar ferramentas, 20 litros de água nas costas e andar em terrenos acidentados durante a noite, mas isso é difícil para qualquer um. E na hora de debelar o fogo o que vale mesmo é o jeito, muitas vezes, eu me sinto muito mais preparada do que alguns homens”, destaca.

Qualquer pessoa para ser brigadista deve passar por uma capacitação, pois é um trabalho de alto risco, em que é necessário possuir diversas habilidades: saber manusear ferramentas como facão e enxada, conhecer o comportamento do fogo, dominar técnicas de prevenção e combate, ter espírito de equipe, além de ter um bom preparo físico, explica Soraya Martins, Chefe do Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD).

No início da sua trajetória, Izabelle Brandão, brigadista voluntária há sete anos, também ouviu a mesma frase de repressão, porém, o amor pela natureza a ajudou a enfrentar o preconceito. “Em 2012, eu fiz um curso de formação de brigadistas em Mucugê e durante as aulas eu me emocionei diversas vezes, então, pensei que não importava se era algo para homem ou para mulher, aquilo era a minha missão de vida”, conta.

Além das brigadas contratadas anualmente pelo ICMBio e pelo IBAMA, cerca de 200  brigadistas enfrentam o combate de forma voluntária, sem receber remuneração.


Uma questão de escolha 



Olivia Taylor, brigadistas voluntária  por quase 20 anos. 
Segundo Soraya Martins, além da linha de fogo, para que um combate seja seguro e eficiente é necessário realizar diversas ações estratégicas e as mulheres estão protagonizando todas elas.  A participação feminina diretamente no combate é um destaque não por ser mais importante, mas por ajudar a eliminar o estereótipo de ser um trabalho exclusivamente masculino. “Queremos reforçar que a mulher pode, sim, ocupar a função que ela desejar”, ressalta. 

Durante os incêndios, muitas das brigadistas também trabalham na coordenação das ações, na articulação institucional, na mobilização, além de viabilizar alimentação, transporte e equipamentos e, fora desse período, também ocupam funções administrativas nas brigadas a que pertencem.

Olivia Taylor, moradora de Lençóis, foi uma das pioneiras do movimento ambientalista da região sendo sócia fundadora da Brigada Voluntária de Lençóis, a primeira a ser formalizada na Chapada Diamantina. Após, participou também da criação da BRAL (Brigada de Resgate Ambiental de Lençóis) onde atuou por quase 20 anos apagando fogo, realizando projetos, captação de recursos e na articulação de parcerias com empresários e poder público.

“Nunca sofri nenhuma discriminação por parte dos meus companheiros brigadistas. Eu fazia parte de um grupo em que todos precisavam ter a mesma condição, caso contrário, você não pode ir para o fogo. É uma medida de segurança”, explica Olívia.

Olívia no primeiro combate realizado com EPI's, em 1997. 

O que é, realmente, necessário para ser brigadista? 

É preciso ter mais de 18 anos, possuir curso de brigadista especifico para incêndios florestais em instituição habilitada como Corpo de Bombeiros, ICMBIO e IBAMA.
Todos os anos o Parque Nacional da Chapada Diamantina contrata 42 brigadistas e oferece gratuitamente o curso de formação, aberto a toda comunidade do entorno. Em breve, serão oferecidas 80 novas vagas. Fique atenta!