quarta-feira, agosto 31, 2016

Conselho do Parque Nacional inicia plano de prevenção a incêndios florestais

Ações envolvem monitoramento, educação ambiental e arrecadação de equipamentos

 

Os graves incêndios florestais que atingiram a Chapada Diamantina em 2015 foram cenas que ninguém quer assistir novamente. Ao todo, foram 60 dias de combate e 312,5 km² (31.250 ha) de área do Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) queimada. Isso sem falar nas áreas do entorno do Parque. A destruição de espécies raras, endêmicas e ameaçadas, além do impacto sobre as nascentes da bacia do Rio Paraguaçu , uma das mais importantes bacias hidrográficas da Bahia, foram as principais consequências dos incêndios. 

A grandiosidade do PNCD (1.520 km²), o relevo acidentado, as condições climáticas severas na época da seca, a alta velocidade de propagação dos incêndios e a dificuldade de comunicação são alguns dos agravantes que tornam os combates na região extremamente complexos e arriscados. Levando tudo isto em consideração e a proximidade do período de estiagem (setembro a dezembro), foi definido pelo Conselho do Parque Nacional da Chapada Diamantina (CONPARNA-CD) que as ações de prevenção a incêndios são a prioridade para este semestre.
Divisão de ações é definida em reunião do Conselho | Foto: Divulgação
Divisão de ações é definida em reunião do Conselho | Foto: Divulgação

Formado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão gestor do PNCD; Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema); sociedade civil; empresários; entidades públicas, universidades, entre outros, o Conselho foi dividido em subgrupos que  ficarão responsáveis por diferentes temas, como: Educação ambiental, treinamento, infraestrutura, fiscalização/monitoramento e articulação institucional. Soraya Fernandes Martins, atual chefe do PNCD, ressalta que o engajamento da população local e das instâncias públicas e privadas é fundamental para o desenvolvimento e eficácia das ações: “entendemos que nenhuma instituição isolada poderá dar conta do desafio. O trabalho exige uma série de medidas por parte dos governos municipais, estadual, federal e sociedade civil.”

Conheça algumas medidas tomadas pelo ICMBio, CONPARNA-CD e instituições parceiras para a temporada de 2016:

Monitoramento

Os mirantes são importantes ferramentas para a detecção de focos de incêndios florestais, determinando sua localidade e definição da estratégia de combate. Para este ano, serão operados seis mirantes na região do Parque Nacional: três mirantes pelo ICMBio, em Batávia (Ibicoara), no Guiné e Capa Bode (Mucugê); um pelo Prevfogo/Ibama, em Rosely Nunes (Itaetê); um em Tanquinho (Lençóis), pelo Corpo de Bombeiros e um pela Brigada de Resgate Ambiental  de Lençóis (BRAL), na torre de Lençóis.

Segundo o Major BM Vianey, do Corpo de Bombeiros Militares, está em processo de licitação, pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), um helicóptero para rondas diárias de 2 horas nas áreas de risco. Ele acrescenta que há inclusive a indicação de recurso para atender essa demanda. “Como estes processos de editais dependem de muitas questões, ainda não posso dizer com precisão qual será o inicio de execução, mas a Diretoria Financeira da Sema está dando andamento ao processo”, explica.

Combate
Brigadistas posam ao lado do piloto Adonis Lopes | Foto: Divulgação
Brigadistas posam ao lado do piloto Adonis Lopes em 2015| Foto: Divulgação

A atuação dos brigadistas é fundamental para o sucesso do combate aos incêndios. A região do Parque Nacional conta com aproximadamente 200 brigadistas voluntários e 42 contratados por um período de seis meses. No mês de maio deste ano, o ICMBio realizou a formação de brigadistas voluntários e a contratação da Brigada do Parque Nacional. Foram capacitadas 92 pessoas em dois cursos, realizados em Palmeiras e Ibicoara. Para atuar como brigadista voluntário é necessário ter mais de 18 anos e possuir curso de formação.

Para que os combates sejam eficazes, os brigadistas necessitam de uma série de equipamentos e insumos, como: bombas costais; abafadores; ferramentas para aceiro; Equipamentos de Proteção Individual (EPIs); equipamentos de comunicação, que são as principais necessidades atualmente; combustível; alimentação adequada; medicamentos; entre outros. Diante da carência de alguns materiais, o CONPARNA-CD criou uma plano de arrecadação de equipamentos que possibilitará que empresas interessadas possam contribuir. Vale ressaltar que a campanha realizada pela Brigada de Resgate Ambiental de Lençóis (BRAL) no último ano teve um resultado bastante satisfatório. Foram mais de 900 doações, durante dois meses de campanha, com a arrecadação de R$ 77 mil,  investidos na construção da nova sede da brigada e na compra de equipamentos. “Para se ter uma ideia da importância das doações e da mobilização popular, apesar de todas as dificuldades, conseguimos, juntamente com as outras brigadas da região, que todos os focos de incêndios localizados dentro do Parque fossem debelados antes das chuvas de janeiro”, afirma Diego Serrano, representante da BRAL no Conselho Municipal de Meio Ambiente.

O excedente de doações (alimentos, equipamentos, EPIs, etc) foram integralmente repassados às outras brigadas municipais, igualmente comprometidas com a defesa do meio ambiente, como: Vale do Capão, Seabra, Mucugê, Campos do São João, Rumo e Baixão da Colônia (Itaetê).
Brigadistas em combate com o auxílio de helicóptero | Foto: Açony Santos
Brigadistas em combate com o auxílio de helicóptero | Foto: Açony Santos
Educação Ambiental

A maioria dos incêndios florestais na região é causada pelo homem, seja por práticas indevidas da pecuária, agricultura e caça; pelo descuido de turistas ou pelo simples objetivo de causar incêndios. Fenômenos naturais, com focos iniciados por raios existem, mas eles são relativamente pouco frequentes. Com o intuito de diminuir e até extinguir estas práticas nos próximos anos serão desenvolvidos diversos projetos de educação ambiental na região, como: cartilhas informativas, palestras nas escolas, cartazes e programas de rádio.

“A educação ambiental é um dos pilares do Plano de Prevenção a incêndios florestais. É consenso também que uma comunicação sensível, clara e ilustrativa é capaz de causar modificações sociais e culturais. Por isso, a campanha vem informar a importância de todos zelarem pelas nossas matas e nascentes, a fim de mantermos o ambiente propício para a sobrevivência de todos”, comenta Margareth Branca Pires, diretora da Flora Comunicação, empresa membro do CONPARNA-CD, prestadora voluntária de assessoria de comunicação ao Conselho e que desenvolverá o design, a elaboração e a divulgação da campanha.

De acordo com Tatiana Portela, Secretária de Turismo de Ibicoara, o município já iniciou algumas ações de educação ambiental, como: mensagens educativas em carros de som, distribuição de panfletos informativos e palestras nas zonas rurais. “Estamos priorizando as comunidades onde tiveram o maior número de focos de incêndios provocados pelo mau uso do fogo pelo agricultor. Estamos também capacitando brigadistas comunitários para atuarem especificamente nestas regiões”, comenta.

Sobre o Conselho

O CONPARNA-CD possui 15 anos de atuação e acaba de ter sua composição renovada. Constitui-se numa instância de participação na gestão do Parque Nacional da Chapada Diamantina, tendo representações de comunidades, associações, brigadas de incêndio, universidades, prefeituras e outros órgãos públicos. Realiza quatro reuniões por ano em caráter itinerante. Suas reuniões são abertas ao público.

Mais informações: conparna.cd@gmail.com

terça-feira, agosto 30, 2016

Planejamento da temporada de incêndios no Parque Nacional da na Chapada Diamantina é discutido em evento participativo



Representantes de brigadas voluntárias discutem estratégias para a temporada de incêndios

Mais de 350 pessoas estão diretamente envolvidas nas ações de prevenção e combate a incêndios na região do Parque Nacional da Chapada Diamantina em 2016. “Só de brigadistas voluntários, mapeamos mais 200 combatentes preparados na região”, informa Pablo Casella, analista ambiental do Parque Nacional. O levantamento é um dos resultados da reunião de elaboração do Plano de Monitoramento e Combate aos Incêndios no Parque Nacional da Chapada Diamantina, que aconteceu nesta terça-feira (23), em Palmeiras.  

O evento reuniu cerca de 30 representantes de entidades governamentais e da sociedade civil, que definiram as estratégias, prioridades e procedimentos para o combate a incêndios no Parque Nacional da Chapada Diamantina e entorno. A preparação para a nova temporada de estiagens identificou no Parque Nacional 20 áreas críticas com risco de incêndios, definiu a instalação e funcionamento de 05 mirantes e mapeou os equipamentos e recursos disponíveis em situações de emergência.

Para Soraya Martins, gestora do Parque, o evento serviu para fazer um planejamento coeso e de fácil execução. “Os combates aos incêndios no Parque Nacional geralmente envolvem diversas instituições. É muito importante sermos pé-no-chão, conhecermos os recursos que se encontram disponíveis neste momento e definirmos as funções de cada organização em situações de emergência”, assegura a gestora. O INEMA, por exemplo, está disponibilizando 08 fiscais, 04 deles peritos, para intensificar as ações de fiscalização nas zonas de maior perigo. “A ideia é inibir as práticas de fogo na agricultura, e fazer várias atividades de educação ambiental nas escolas locais para mobilizar as comunidades”, afirma Simone Alcântara, representante do órgão estadual.

Brigadas e Prefeituras comprometidas

A grande novidade foi a organização das diferentes instituições segundo o método Sistema de Comando de Incidentes (SCI). Para Ana Maria Canut, do PrevFogo/IBAMA, a definição de um comando composto por integrantes das entidades que atuam em um incêndio e dos procedimentos básicos a serem seguidos pelos grupos em uma situação crítica significa uma mudança de cultura. Joás Brandão, do Grupo Ambientalista de Palmeiras (GAP), concorda: “Antes o fogo chegava e não tinha comunicação. Ninguém sabia o que o outro estava fazendo e isto dificultava o trabalho de todo mundo”. 

O representante da Secretaria de Meio Ambiente de Ibicoara, Janú Xavier, concorda. “Com uma maior articulação, a gente consegue que as prefeituras se planejem para disponibilizar veículos, apoio de carros-pipa ou alimentação. Dá pra ter uma ação mais coordenada”.

Considerando a necessidade de maior articulação inter-institucional, os participantes reclamaram da ausência do Corpo de Bombeiros, que já havia confirmado presença. Rogério Mucugê, da Conservação Internacional, lamenta a ausência do órgão. “Sentimos falta da representação do Corpo de Bombeiros. Eles são fundamentais em qualquer ação de planejamento e combate ao fogo e devem estar integrados nessa estratégia que definimos aqui”, completa.

O evento terminou em clima de integração e otimismo. Segundo Soraya Martins, “todos que participaram do evento expressaram, de alguma forma, seu engajamento na defesa desse patrimônio ambiental inestimável que é a Chapada Diamantina!”